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Mostrando postagens de 2017

A cozinha da vovó - parte final (Ela)

Quem é a dona dessa cozinha? Ela é Maria da Conceição Marcial, esposa do Nelson, e juntos formam um admirável casamento. Ela é mãe de treze, avó de vinte e seis, bisavó de nove e contando. Uma matriarca que exala carinho e bolinho de chuva. Ela é exemplo de tudo nessa vida. De fé, sabedoria, coragem, força, inteligência, criatividade e amor. Ela é uma cozinheira de mão e coração cheios. Dona dos melhores quitutes e receitas. Ela é a razão da minha paixão pela culinária e, para mim, falar sobre cozinha é falar sobre ela.

A cozinha da vovó - parte 12 (Comida é amor)

Comida é amor Penso que nossa vida e como somos é uma simples junção de pedacinhos de experiências que vivemos. Claro que passamos por momentos bons e ruins, mas acho que está em nossas mãos escolher o que irá nos definir. Aqueles que me criaram sempre me ensinaram o melhor caminho e vovó faz parte disso. Entre tantas lições, a que mais carrego dela, é a de cozinhar para quem amamos. Comida não é somente alimento que mata fome, mas também uma linda demonstração de afeto.  Sem dúvidas, traduzir amor em comida é uma das melhores coisas da vida. Dá uma sensação boa ver a pessoa degustando sua comidinha com esse tempero mais que especial. Tenho na memória os afagos comestíveis que já recebi e, agora, os que preparo para os que me rodeiam.  Amor que vem... Da vovó, já ganhei muito chuchu refogadinho para comer com angu. De minha mãe, frango com quiabo, sopa de galinha e arroz com suã são sinônimos de felicidade. Do pai, um picolé de amendoim ou feijão com zoiúdo despertam sor

A cozinha da vovó - parte 11 (Dias de festa)

Dias de festa As datas comemorativas do nosso calendário são marcadas pela tradição de estar na casa de vovó. Dia das Mães e dos Pais, Sexta-feira Santa, Páscoa, Dia das Crianças e Natal são os que mais me deixam com saudade de passar em família. Dias antes já começam os preparativos, os parentes começam a chegar e colchões vão se espalhando pela casa. O clima é radiante, pelo simples fato de estarmos juntos. Vovó estampa no rosto a alegria de estar com a casa cheia e o cansaço dessa exaustiva rotina não tem chance em meio a tanta satisfação.  Nesse ritmo, é claro que a cozinha também funciona de forma acelerada. A mesa de café fica posta o dia todo, sempre com uma garrafa de café, queijo e alguma broa. As refeições são muito fartas, com diferentes opções de comida, já que vovó faz questão de agradar cada um. E, nessas ocasiões, as duas enormes mesas não bastam para receber a turma toda. Os mais novos eram destinados para a escada, formando uma sequência de crianças. Hoje, tod

A cozinha da vovó - parte 10 (O sabor da simplicidade)

O sabor da simplicidade Comida de avó é um exemplo perfeito de como as coisas simples podem ser as mais especiais. Com o tempo, aprendi a admirar esses momentos. Entendi que a grandiosidade está naquilo que nos faz bem, que enche o coração de sentimento, mesmo que, às vezes, nem seja possível definir o que se sente. É algo único, que traz sentido pra vida da gente e mostra aquilo que queremos ser.  Eu, por exemplo, tenho enorme satisfação em passar uma tarde inteira na cozinha, ouvindo música e com uma taça de vinho ao lado do fogão. Outra coisa que me deixa eufórica é ir para casa dos meus pais já imaginando cada comidinha que irei degustar. Nessas horas, o que importa é deliciar, sem presa, cada garfada. É deixar a prosa estender-se até a madruga, mesmo que o cansaço ordene o contrário. E acordar bem cedo no dia seguinte com receio de perder o pouco tempo que temos em cada visita.  A comida da minha avó é assim, de sabores simples, mas incríveis. O ovo caipira frito logo cedo

A cozinha da vovó - parte 09 (Caderno de receitas)

Caderno de receitas Existem várias formas de contar histórias e as receitas são, certamente, uma delas. Os cadernos de receitas antigos eram cheios de capricho, com recortes e bordados. A caligrafia era tão impecável que parecia sair de um conto de fadas. E existia uma proteção a esse caderno, que além de guardar tesouros da culinária, seria usado por gerações adiante.  Outra coisa que me fascina são as formas de medida, como, por exemplo, um prato raso de farinha ou uma dita de leite, que nada mais é do que uma xícara. Pensar que essa linguagem era corriqueira e facilmente entendida pelas cozinheiras da época.  Com o tempo, os escritos ficaram dispensáveis para minha avó, que faz seus preparos somente com o uso de três medidas incríveis: memória, olho e paladar. Mas o costume de colecionar receitas ainda resiste. Confesso que anotar as dicas que passam na televisão é uma arte, pois escrever tudo rapidinho e depois traduzir é algo difícil. Lembro-me tanto de passar horas com

A cozinha da vovó - parte 08 (Tacho de cobre e colher de pau)

Tacho de cobre e colher de pau Considero alguns utensílios e receitas um verdadeiro tesouro de nossa culinária. Não é simplesmente um preparo antigo, mas sim uma expressão da nossa cultura. Algumas histórias podem ser contadas através de uma receita. A forma como ela surgiu, a junção dos ingredientes e a sua importância na alimentação. Assim como os utensílios também podem representar marcos históricos.  Sempre fui fascinada com tudo na cozinha de vovó, mas a história contada ali era o que mais me encantava. Os livros antigos e empoeirados – que inclusive ela já me presenteou com alguns. As enormes colheres de pau que trabalhavam arduamente nas panelas de angu ou massas de broa. Uma pequena forminha de madeira, usada por ela ainda criança para ajudar sua mãe na arte de fazer queijo. As panelas de ferro que serviam para longos preparos e que eu teimava em tentar carregar. E os majestosos tachos de cobre, que reluziam e faziam meus olhinhos brilhar.  Há alguns anos, vovó fez u

A cozinha da vovó - parte 07 (O milagre do pão)

O milagre do pão Na minha família pão é sinônimo de benção. Seja pelo catolicismo, que nos ensinou a receber o pão como corpo de Cristo, assim como por tudo que essa relação representa para nós: fartura, partilha e união. Minha avó sempre me disse que uma casa com pão é uma casa abençoada. Esses dizeres ecoam até hoje em minha memória. E, com isso, criei um dos meus maiores encantamentos e prazeres na cozinha, o de fazer o próprio pão. Foi com ela que aprendi todos os passos e me vi, desde pequena, moldando pequenos pãezinhos naquela enorme mesa de madeira. Ali, ouvi sobre o processo de fermentação e os diferentes tipos de fermentos naturais que ela já fez. Outrora, ela contava sobre os tempos de dificuldade na família e como farinha, água e fermento se tornavam um verdadeiro alento. Também me contou sobre as melhores formas de rechear, cortar e assar diferentes pães. Mas nada se compara ao sublime momento de colocar literalmente a mão na massa.  Parecia uma cozinha mágica, co

A cozinha da vovó - parte 06 (A famosa pizza)

A famosa pizza Preciso muito falar da pizza de vovó. Na verdade, se fosse contar cada tarde que passamos preparando os vários tabuleiros de pizza esse registro seria puro orégano. Essa receita é muito importante em nossa história juntas, é emoção. Dia de pizza na casa dela sempre foi uma festa, mas com hora marcada para começar. Assim, quando chegávamos os tabuleiros já estavam saindo quentinhos do forno. Até que comecei a me interessar pelo preparo e as primeiras tarefas eram finalizar com tomate e orégano. Um pouco mais de experiência e já ajudava a picar os ingredientes, distribuir o queijo e regar com azeite – sem esquecer as bordas, ordem enfática de vovó. Nesse passo, já estava acompanhando quase todo o processo, mas faltava o principal. “Dessa vez vou te ensinar a fazer a massa”, bastou ela pronunciar essas palavras para meus olhinhos atentos se voltarem para o movimento orquestrado de vovó. Nem preciso dizer que ela fazia sem medida alguma, mas acho que o mais importante

A cozinha da vovó - parte 05 (Dia de feira)

Dia de Feira Tenho uma relação de identidade muito forte com feiras, barracas, mercados e outros desse estilo. Tenho também a certeza que aprendi isso com vovó, já que desde pequena ela me ensinou que escolher ingredientes não é apenas uma tarefa necessária, mas um programa muito prazeroso. Os produtos frescos, exalando aromas e cores, são a melhor inspiração para cozinhar. Perdi as contas de quantas vezes me encantei presenciando os olhos dela brilharem por uma banca de quiabo ou manga. Hoje, vejo em mim esse espelho, sempre deslumbrada com esse mundo. Depois de ter conhecido diferentes feiras e mercados, entendo claramente o motivo dessa paixão. Afinal, lugares assim representam fielmente a cultura do lugar, de um povo. É ali que as pessoas mostram não só seus produtos, mas também quem são. Além disso, também conseguimos identificar as comidas típicas, as frutas nativas e até receitinhas que fazem parte da história daquela região. É um ambiente que me faz muito bem, me enche

A cozinha da vovó - parte 04 (Cheiro de lar)

Cheiro de lar Tenho o olfato muito aguçado, daqueles capazes de identificar exatamente o que o vizinho está preparando. Consigo sentir na boca o gosto do cheiro, que por sua vez me carrega no tempo para uma memória gostosa. Tenho alguns aromas preferidos, como bolo que leve na massa açúcar mascavo e maçã. Adoro o cheirinho de leite fervendo. Salivo só de sentir de longe qualquer receita que tenha manjericão. Mas, sou encantada com cheiro de carne no forno. É algo que me transporta no tempo e me leva diretamente para casa de mamãe e vovó. Era uma época em que a gente, ainda criança, acordava com esse aroma pela casa toda. O café da manhã tinha cheiro do pernil que já estava no forno desde cedo. Uma verdadeira tortura que se estendia até a tardia hora do almoço em família. Com o tempo, esse momento de prazer olfativo passou a incorporar as outras etapas do preparo. No dia anterior, preparávamos o tempero que era besuntado em toda a carne com amor na ponta dos dedos. De tempos em tem

A cozinha da vovó - parte 03 (Respeito, sempre)

Respeito, sempre Fartura, uma palavrinha pequena e tão grande. Um significado aprendido com vovó, que me ensinou a essencial diferença entre uma mesa farta e uma que acaba em desperdício. Sempre fiquei imaginando a vida dela criando treze filhos, morando um bom tempo em ambiente rural e precisando fazer mágica com os alimentos. Aliás, não só ela, mas muitas de seu tempo davam conta de pilar o próprio arroz, produzir o queijo, armazenar latas de carne e por aí vai. Não havia espaço para desperdício, a comida era suada e muito bem contada.  Lembro-me perfeitamente de vovó me colocando para raspar com o dedo os restinhos de clara nas cascas de ovos. Um pouco depois, me recordo também dos puxões de orelha quando deixava restos generosos de alguma massa na bacia. Tinha que voltar ao ofício até não restar nadinha. Esses momentos sempre vinham acompanhados de um discurso fervoroso sobre o respeito aos alimentos.  Sou imensamente grata por esses ensinamentos e pelo entendimento que

A cozinha da vovó - parte 02 (Linguiçaria de mamãe e tempero de vovó)

Linguiçaria de mamãe e tempero de vovó Minha avó teve treze filhos e no meio dessa turma está minha mãe. As duas são muito parecidas, não só na força, fé e sabedoria ao desempenharem o papel de mulher e mãe, mas também compartilham o amor pela cozinha. São tantos hábitos, receitas e expressões parecidas que renderiam uma história à parte. Por isso, escolhi a que considero mais importante para destacar aqui. Sem dúvidas, preciso falar sobre a linguiçaria.  A Linguiçaria Maria José começou em 1989 e é fundamental em nossas vidas, pois foi com essa atividade que meus pais criaram nossa família. Quando minha mãe decidiu começar esse negócio, vovó deu apoio total e, também, o tempero para ela começar o trabalho. Tive a honra de escrever essa história em um artigo tempos atrás e nunca me esqueço das palavras de vovó ao entrevistá-la. “Quando sua mãe veio até a mim e disse que iria fazer linguiça, tratei de fazer uma receita bem grande de tempero”.  Ela conta que seu filho mais novo

A cozinha da vovó - parte 01

Há um ano escrevi um livro para minha avó. Uma publicação única, só para ela, mostrando o quanto sou grata por ter me ensinado o amor pela cozinha. Hoje, dando uma olhada nesses arquivos, decidi publicar as crônicas e receitas aqui no blog, só para vocês também se apaixonarem por ela. Primeira lembrança inventada A ideia de começar a escrever sobre vovó veio da vontade de puxar no fundinho da memória minha primeira lembrança com ela. Sempre admirei contadores de casos que relatam fielmente sua primeira experiência na cozinha, mesmo que vivida no auge dos seus quatro anos de idade. A primeira coisa que me pergunto é sobre a possibilidade de lembrarmos coisas passadas quando somos tão pequenos. Uma pesquisa rápida na internet me conta, com toda sua sabedoria, que realmente é possível lembrar daquilo que aconteceu nessa idade. Invejo um pouco essa habilidade, porque eu realmente não consigo. Já meditei, pensei, imaginei, mas não me lembro. Menos ainda sei se a minha primeira expe

Hot Dog Bom Clima

A tradicional sorveteria Bom Clima , em Juiz de Fora, já é um absurdo de sabor e qualidade quando o assunto são os gelados. Sou fã dos produtos, em especial do sorvete de quindim, que acabou de retornar ao cardápio. Os produtos são artesanais, o atendimento carinhoso e o ambiente aconchegante. Mas a dica de hoje é sobre as opções de hot dog da casa, produzidos no trailer estacionado dentro do local. Confesso que tenho evitado esse tipo de comida por receio da qualidade das salsichas, mas fiquei feliz em ver que as de lá são artesanais e preparadas pelo restaurante  Das Haus . O meu preferido foi o lanche com salsicha, molho de tomate, maionese caseira e manjericão. Mas também experimentei o de fraldinha com molho barbecue. O hot dog é leve, com sabores bem caseiros e deixa saudade na boca. 

Abraço em forma de polenta e tomate

Sabe aquela comida que te abraça? Então, foi exatamente assim que me senti com a receitinha de hoje. Era uma sexta de frio, sofá e um pouco de preguiça. Pensei em algo prático e com o que tinha em casa. Aconteceu esse aconchego em forma de comida. Ingredientes polenta 2 xícaras de caldo de legumes (se não tiver caldo caseiro é melhor usar água pura do que apelar para caldo em tablete, ok?) 2 xícaras de leite 1 xícara de fubá 2 colheres de sopa de manteiga 3 colheres de sopa de queijo parmesão Modo de preparo Coloque em uma panela grossa o leite e a manteiga para derreter. Dissolva o fubá no caldo de legumes frio e despeje na panela. Deixe o fogo baixo e mexa até formar consistência de polenta. Tampe a panela e deixe cozinhar por 20 minutos. Acrescente o queijo ralado e acerte o sal. Ingredientes molho de tomates assados 1 ½ quilos de tomates maduros 3 dentes de alho Azeite Ervas frescas (usei tomilho e alecrim) Pimenta do reino a gosto Sal a gos