Caderno de receitas
Existem várias formas de contar histórias e as receitas são, certamente, uma delas. Os cadernos de receitas antigos eram cheios de capricho, com recortes e bordados. A caligrafia era tão impecável que parecia sair de um conto de fadas. E existia uma proteção a esse caderno, que além de guardar tesouros da culinária, seria usado por gerações adiante.
Outra coisa que me fascina são as formas de medida, como, por exemplo, um prato raso de farinha ou uma dita de leite, que nada mais é do que uma xícara. Pensar que essa linguagem era corriqueira e facilmente entendida pelas cozinheiras da época.
Com o tempo, os escritos ficaram dispensáveis para minha avó, que faz seus preparos somente com o uso de três medidas incríveis: memória, olho e paladar. Mas o costume de colecionar receitas ainda resiste. Confesso que anotar as dicas que passam na televisão é uma arte, pois escrever tudo rapidinho e depois traduzir é algo difícil. Lembro-me tanto de passar horas com vovó, assistindo programas e conversando sobre receitas.
Acho que tudo isso contribuiu para eu ficasse viciada em receitas. Tenho, até hoje, o meu caderno de receitas de criança, inclusive com a capa da Emília de Monteiro Lobato. Na estante de casa, uma coleção de livros de culinária. Ali não se encontra literatura comum, somente aquela que pode ser degustada. Os programas de televisão evoluíram, com uma programação inteira só de comidas. Nota mental: “fazer uma assinatura de TV fechada para vovó, ela vai amar a GNT". E ainda temos a internet, com infinita possiblidade de pesquisa para receitas, ingredientes e dicas.
Enfim, o meu mundo de receitas só se expandiu. Ainda mantenho o meu antigo caderno, com receitas testadas e repleto de respingos de bolo e molho de tomate. Orgulho-me de já ter decorado algumas e fazer sem precisar de consulta. E, claro, quando encontro uma receita incrível guardo para fazer com vovó.
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