Linguiçaria de mamãe e tempero de vovó
Minha avó teve treze filhos e no meio dessa turma está minha mãe. As duas são muito parecidas, não só na força, fé e sabedoria ao desempenharem o papel de mulher e mãe, mas também compartilham o amor pela cozinha. São tantos hábitos, receitas e expressões parecidas que renderiam uma história à parte. Por isso, escolhi a que considero mais importante para destacar aqui. Sem dúvidas, preciso falar sobre a linguiçaria.
A Linguiçaria Maria José começou em 1989 e é fundamental em nossas vidas, pois foi com essa atividade que meus pais criaram nossa família. Quando minha mãe decidiu começar esse negócio, vovó deu apoio total e, também, o tempero para ela começar o trabalho. Tive a honra de escrever essa história em um artigo tempos atrás e nunca me esqueço das palavras de vovó ao entrevistá-la. “Quando sua mãe veio até a mim e disse que iria fazer linguiça, tratei de fazer uma receita bem grande de tempero”. Ela conta que seu filho mais novo brincou com a quantidade, mas que imediatamente respondeu que se a decisão de Maria José era fazer linguiça, então, faria muita. “E os anjos disseram amém”, completou com a voz emocionada.
Foram anos de muita dedicação e aprendizado até que chegasse ao patamar que a linguiçaria está atualmente: a primeira artesanal devidamente autorizada no mercado. Maria José se tornou um exemplo de luta e trabalho feito com responsabilidade. Além do cuidado com a qualidade e saúde dos produtos artesanais, a preservação de seus processos também é de fundamental importância. Isso porque são nessas receitas que mostramos muito de nossa cultura. Uma linguiça feita da forma tradicional, sem conservantes, curada no fogão à lenha e tempero caseiro, do jeitinho que vovó ensinou.
Essa história resume, para mim, toda a referência que tenho ao pensar nas duas. Minha mãe sempre demonstrou admiração e vontade de seguir os passos de vovó. Caso ela ainda não saiba, conseguiu ser exatamente esse espelho maravilhoso. Basta olhar para quatro meninas - mulheres, que atualmente mantém exatamente esse mesmo olhar. Estou falando de mim e minhas três irmãs, pelas quais posso falar com total propriedade. Hoje olhamos admiradas e com o desejo de sermos exatamente como mamãe, um reflexo de vovó.
É voz que acalma e chama
Som que bate na alma e encanta
É olhar que procura até encontrar
Só para fazer o coração acalmar
É cheirinho que sente de lá e cá
Seja vô ou mãe na hora de abraçar
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